A copa, a seleção e um exemplo de liderança
Podemos dizer que liderar é, em suma, conduzir um grupo de pessoas visando atingir um objetivo em comum. Dentro deste conceito está embutido também a concepção de trabalho em equipe, que é o conjunto de ações coordenadas e esforços coletivos em busca de solucionar um problema, ou realizar uma tarefa, por exemplo. Logo, conseguimos perceber que liderança, de forma conceitual, é fazer com que um grupo trabalhe em conjunto e consiga atingir um objetivo, um resultado. É a arte de comandar pessoas, atraindo seguidores e influenciando de forma positiva mentalidades e comportamentos. Bem, pelo menos é o que deveria ser.
Uma imagem muito popular nas redes sociais é a da diferença entre chefe e líder, que consiste num quadro com duas imagens, onde na imagem de cima o chefe está em cima de uma cadeira no alto dando ordens à equipe, que carrega a empresa através de uma corda, e na imagem de baixo, aparece o líder na frente da equipe que carrega a empresa através da mesma corda, ou seja, no mesmo nível da equipe. E porque esta imagem é tão popular? Simplesmente porque há muitos “chefes” que não são líderes, apenas detém o poder formal da liderança, mas não o respeito de suas equipes enquanto líderes. O líder verdadeiro não necessariamente precisa do poder formal, e sim de influência entre a equipe, mesmo que informalmente.
Liderança natural x liderança conceitual?
Mas, e a Copa? Podemos tirar alguma lição desta competição em relação à liderança? Lógico que sim. Vamos analisar a seleção brasileira desde a última copa, em 2010, na África do Sul. Após uma eliminação precoce e de grande repercussão, o Brasil precisava realizar mudanças significativas em sua seleção, por ser pentacampeão mundial, o maior vencedor de Copas do Mundo, e a próxima seria no próprio Brasil. Uma resposta aos torcedores era necessária, e essa resposta passava em grande parte por uma nova liderança, a qual ficou a cargo de Mano Menezes. Mano é um treinador com um excelente currículo, mas na seleção não repetiu os bons resultados e foi rapidamente substituído por Felipão.
Luiz Felipe Scolari, treinador pentacampeão, com passagens em grandes clubes europeus, pela seleção portuguesa, será que seria uma boa escolha retornar um treinador que já treinou a seleção brasileira e a deixou após a Copa de 2002? Os números por si só já dizem, contra fatos não há argumentos, e os resultados mostram isto. Neste seu retorno Felipão ganhou 18 de seus 25 jogos, empatou 5 e perdeu apenas 2, um aproveitamento de 78,66%, sendo ainda campeão da Copa das Confederações invicto e inclusive desbancando a atual campeã mundial, a Espanha, em 2013. E qual o segredo de Felipão, que Mano Menezes não conseguiu descobrir antes? Vale lembrar que a competição oficial que Mano disputou com a seleção foi um fiasco, uma eliminação na Copa América de 2011, nos pênaltis para o Paraguai nas quartas de final.
Felipão nunca estudou em Lausanne, Harvard ou na FGV, nunca fez MBA em Gestão de Pessoas e/ou Liderança, talvez nunca tenha feito um curso de liderança (ele é Profissional de Educação Física por formação), mas sabe liderar como poucos, faz o que poucos chefes/líderes fazem, que é extrair o melhor de sua equipe. É fato que para liderar e alcançar bons resultados a equipe deve ser boa ou excepcional tecnicamente, entretanto, assim como na convocação da seleção, o líder tem o poder de escolha sobre quem vai trabalhar em sua equipe (e aqui cabe um adendo: aquele ditado que diz que o que é bom custa caro é mais que verdadeiro na contratação de funcionários, portanto, ao escolher pessoas “baratas” em relação ao mercado para a sua equipe, o líder assume o risco de ter pessoas menos preparadas, e consequentemente resultados piores) e a partir daí como motivá-la a atingir os melhores resultados.
O líder precisa saber "enxergar" e engajar a equipe
Felipão soube montar uma equipe de alto nível, manteve os melhores jogadores que Mano convocou, trouxe novos talentos, e apostou em Júlio César, que tinha fracassado na última copa, mas é um bom goleiro, dos melhores, e queria muito se redimir da Copa de 2010, o que conseguiu no jogo das oitavas de final contra o Chile, agora na Copa 2014, e só conseguiu isto porque Felipão lhe concedeu uma segunda chance, acreditou em seu talento e potencial, outra característica fundamental de um bom líder, a de ser visionário, enxergar o que ninguém enxerga.
Entretanto, o diferencial de Felipão é montar uma equipe unida e engajada, com vontade de vencer, de mostrar resultados, e para isto, ele faz o que todos os líderes, repito, todos, deveriam fazer, que é envolver a equipe, criar um ambiente de produtividade, mas agradável, colaborativo, de reconhecimento e o principal, um ambiente em que os todos sentem orgulho de fazer parte. Quem não queria se encher de orgulho e dizer: “Eu adoro trabalhar na minha empresa e com meu chefe, me sinto feliz em fazer parte daquela equipe e ser liderado por ele”. Infelizmente, a maioria das pesquisas sobre chefes/líderes mostra que as pessoas dizem o contrário. E como fazer isto que Felipão fez? O que é que ele nunca estudou, mas sabe mais do que muitos líderes com títulos acadêmicos excepcionais no currículo? É relativamente simples, vamos fazer uma lista?
1. Montar um time com pessoas que se complementam como equipe;
2. Garimpar talentos em potencial;
3. Tratar bem as pessoas;
4. Premiar a meritocracia, os bons resultados;
5. Exigir excelência, sempre;
6. Acreditar em sua equipe;
7. Não agir com dois pesos e duas medidas;
8. Motivar sua equipe;
9. Elogiar em público;
10. Repreender em particular;
11. Reconhecer o esforço da equipe, sempre;
12. Chamar para si a responsabilidade e apoiar a equipe em todos os momentos.
Por saber criar um ambiente assim na seleção, Felipão fez com que os jogadores tivessem orgulho de fazer parte daquele grupo e se esforçassem acima da média na Copa das Confederações, alcançando bons resultados, e reposicionando a imagem da Marca Seleção Brasileira na cabeça dos torcedores de uma forma positiva, fazendo com que estes torcedores a aplaudissem, gritassem e vibrassem (inclusive, interromperam um momento histórico de protestos pelo país para torcer pela seleção que tanto lhes dava orgulho), mostrassem que aquela seleção é digna de seu país. Que profissional não gosta de ver seu trabalho reconhecido?
Extraindo o melhor de cada um da equipe
Com os jogadores não é diferente, assim que viram seu esforço sendo reconhecido, se esforçaram mais ainda e conquistaram a Copa das Confederações. E o mérito foi de Felipão, pois, como dizia Jack Welch: “O líder não é o que sabe mais nem é o melhor, e sim aquele que extrai o melhor de sua equipe, sempre”. E foi isto o que ele fez, motivou seus jogadores, fez questão de criar um ambiente saudável, a “família Felipão”, fez questão de mostrar apoio incondicional em quem ele acreditava (Júlio César, principalmente), garimpou mais talentos (nem todo o time que jogou a Copa das Confederações foi convocado para a Copa, ou seja, Felipão exige comprometimento e resultado, sempre), nunca privilegiou nenhum jogador nem apoiou “panelinhas”, e principalmente, tratou bem as pessoas. Mas, porque é tão difícil fazer isto nas empresas, órgãos governamentais e/ou entidades do Terceiro Setor? Pelo simples motivo que lidar com pessoas não se ensina na Academia, e sim depende de cada um, tem que se ter algumas características fundamentais, como:
1. Gostar de pessoas;
2. Ter um ego controlado;
3. Saber ouvir;
4. Estar disposto a considerar opiniões contrárias;
5. Saber que as melhores ideias (quase) nunca vêm de si próprio;
6. Valorizar as ideias das outras pessoas;
7. Nunca deixar de conceder o devido crédito para quem teve a ideia;
8. Não ter medo de perder seu cargo para quem mostra resultados;
9. Não acatar nem usar de protecionismo, sendo justo sempre;
10. Assumir a responsabilidade pelos atos de seus liderados;
11. Agir normalmente, pois ninguém consegue ser o que não é por muito tempo;
Todas estas características estão em qualquer Best Seller de liderança, menos a característica 11, mas mesmo assim, a maioria dos líderes não as possui ou não as quer possuir, simplesmente porque exigem um esforço e um comprometimento descomunal, e esta maioria pensa somente no status e no bônus de ser líder, nunca no ônus. Mas, o principal e maior bônus em ser líder é ser respeitado por sua equipe e alcançar o reconhecimento da empresa e do mercado por isto, atrelado a bons resultados, claro. E Felipão já alcançou, os jogadores e torcedores o admiram, não há dinheiro que pague isto. Se o Brasil vai ser campeão nesta Copa, não sabemos ainda, mas que está no caminho certo, com certeza está. E você, quer realmente ser reconhecido como um bom líder? Então faça a diferença na vida de seus liderados agora, e daqui há um tempo procure saber o que seus liderados estão fazendo profissionalmente, se pelo menos um obtiver sucesso e você tiver sido decisivo nisto, você já será considerado um bom líder.
Pronto para fazer a diferença?
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